Joaquim Barbosa define situação de réus do ‘mensalão’ após pedir prisão imediata

Diante da possibilidade de iniciar o cumprimento de pena nas sentenças impostas por decisão colegiada do Supremo Tribunal Federal (STF) em regime semi-aberto, o ex-deputado José Dirceu trocou o apartamento, em São Paulo, por uma praia baiana. Dirceu passará o feriado com a família na região de Itacaré, no litoral sul da Bahia. O líder petista chegou ao local na última segunda-feira e deve permanecer até domingo. A região é paradisíaca, com toda infraestrutura de hotéis cinco estrelas e residências de alto luxo, acessível apenas por uma rodovia estadual. A sessão desta quarta, na qual foi decidida a prisão imediata de parte dos condenados no esquema do ‘mensalão’, não afetou Dirceu porque ele ganhou o direito de apresentar embargos infringentes — apesar da primeira condenação, ele será julgado novamente pelo crime de formação de quadrilha. Em casa Outro dos condenados no processo conhecido como ‘mensalão’ que podem ter a prisão decretada nas próximas horas, o deputado federal José Genoino espera em sua casa no bairro do Butantã, em São Paulo, pela próxima sessão do Supremo Tribunal Federal (STF), na semana que vem. Perguntado se havia a possibilidade de Genoino se apresentar à polícia ainda nesta quinta-feira, o advogado dele, Luiz Fernando Pacheco, disse que a orientação é para que seu cliente aguarde em casa. Pacheco afirmou, ainda, que não está prevista entrevista do deputado para comentar a decisão do STF. Na tarde desta quinta, o presidente do STF, Joaquim Barbosa, confirmou a apresentação de um quadro com a situação de cada réu do mensalão e vai discuti-lo com os demais ministros da Corte. Na quarta-feira, o STF determinou a prisão imediata de 11 dos 25 réus do mensalão, entre eles Genoino. Logo cedo, o deputado recebeu a visita da filha Miruna Kayano Genoino e de dois netos. Bastante exaltada, Miruna chegou à casa reclamando da presença de fotógrafos e cinegrafistas que estão no local desde a madrugada. As crianças saíram do carro cobrindo o rosto com as mãos para evitar fotos. Mãe e filhos ficaram alguns minutos com Genoino e deixaram o local ainda nesta manhã. No ano passado, Miruna divulgou uma carta aberta em defesa do pai. A movimentação na casa do deputado – um sobrado simples num bairro de classe média – tem sido pequena nas últimas horas. Dois homens chegaram à residência, mas não quiseram se identificar. Familiares e amigos deGenoino têm evitado a imprensa conservadora desde o início do julgamento do ‘mensalão’. “Vinho amargo” Diante da decisão do STF, o jornalista Paulo Nogueira, editor do Diário do Centro do Mundo, na internet, publicou nesta quinta-feira um artigo no qual afirma que, no julgamento do ‘mensalão’, os maiores prejudicados foi, exatamente, “a elite predadora que luta ferozmente para conservar seus privilégios”. Leia, a seguir, os principais trechos do artigo, intitulado: O vinho amargo que será tomado para festejar a prisão de Dirceu Colunistas da mídia estão festejando com sua habitual hipocrisia estridente a decisão do Supremo de ontem de mandar prender boa parte dos réus. Dirceu preso era o sonho menos deles do que de seus patrões. Num momento particularmente abjeto da história da imprensa brasileira, dois colunistas chegaram a apostar um vinho em torno da prisão, ou não, de Dirceu. Você vai ler na mídia intermináveis elogios aos heróis togados, aspas, comandados pelo já folclórico Joaquim Barbosa. Mas um olhar mais profundo, e menos viciado, mostra que o Mensalão representou, na verdade, uma derrota para a elite predadora que luta ferozmente para conservar seus privilégios e manter o Brasil como um dos campeões de desigualdade social. Por que derrota, se a foto de Dirceu na cadeia vai estar nas manchetes? Porque o que se desejava era muito mais que isso. O Mensalão foi a maneira que o chamado 1% encontrou para repetir o que fizera em 1954 com Getúlio e 1964 com João Goulart. Numa palavra, retomar o poder por outra via que não a das urnas. A direita brasileira, na falta de votos, procura incansavelmente outras maneiras de tomar posse do Estado – e dos cofres do BNDES, e das mamatas proporcionadas por presidentes serviçais etc etc. A palavra mágica é, sempre, “corrupção” – embora nada mais corrupto e mais corruptor que a direita brasileira. Sua voz, a Globo, sonegou apenas num caso 1 bilhão de reais numa trapaça em que tratou a compra dos direitos de transmissão de uma Copa como se fosse um investimento no exterior. Foi assim como o “Mar de Lama” inventado contra Getúlio, em 1954. Foi assim com Jango, dez anos depois, alvo do mesmo tipo de acusação sórdida e mentirosa. E foi assim agora. Por que o uso repetido da “corrupção” como forma de dar um golpe? Porque, ao longo da história, funcionou. O extrato mais reacionário da classe média sempre foi extraordinariamente suscetível a ser engabelado em campanhas em nome do combate – cínico, descarado, oportunista – à corrupção. A mídia – em 54, 64 e agora – faz o seguinte. Ignora a real corrupção a seu redor. Ao mesmo tempo, manipula e amplia, ou simplesmente inventa, corrupção em seus adversários. Agora mesmo: no calor da roubalheira de um grupo nascido e crescido nas gestões de Serra e Kassab na prefeitura, o foco vai se desviando para Haddad. Serra é poupado, assim como em outro escândalo monumental, o do metrô de São Paulo. Voltemos um pouco. A emenda que permitiu a reeleição de FHC passou porque foi comprado apoio para ela, como é amplamente sabido. Congressistas receberam 200 000 reais em dinheiro da época – multiplique isso por algumas vezes para saber o valor de hoje — para aprová-la. Mas isso não é notícia. Isso não é corrupção, segundo a lógica da mídia. O caso do Mensalão emergiu para que terminasse como ocorreu em 1954 e 1964: com a derrubada de quem foi eleito democraticamente sob o verniz da “luta contra a corrupção”. Mas a meta não foi alcançada – e isso é uma extraordinária vitória para a sociedade brasileira. No conjunto, ela não se deixou enganar mais uma vez. O sonho de impeachment da direita fracassou. Ruiu também a esperança de que nas urnas, sob a influência do noticiário massacrante, os eleitores votassem nos amigos do 1%: Serra conseguiu perder São Paulo para Haddad, um desconhecido. O que a voz rouca das ruas disse foi: estão tentando bater minha carteira com esse noticiário. O brasileiro acordou. Ele sabe que o que a Globo — ou a Veja, ou a Folha – quer é bom para ela, ou elas, como mostram as listas de bilionários brasileiros, dominadas pelas famílias da mídia. Mas não é bom para a sociedade. E por estar acordado o brasileiro impediu que o Mensalão desse no que o 1% queria – num golpe. Por isso, o vinho que será tomado pela prisão de Dirceu será extremamente amargo. Paulo Nogueira é jornalista, baseado em Londres, fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo. Fonte: Correio do Brasil
Zeudir Queiroz

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