Fraudes com CPF de idosos facilitaram envio de mensagens na campanha, diz Folha de São Paulo

Documentos e depoimentos encaminhados à Justiça do Trabalho mostraram envio massivo de mensagens pelo WhatsApp na campanha eleitoral deste ano. Rede de empresas fraudou nome e CPF de idosos para cadastrar chips de celular e assegurar o disparo de mensagens positivas para políticos. As informações são da Folha de S. Paulo deste domingo, 2.
Entre as agências envolvidas na prática está a Yacows. Ela foi subcontratada pela produtora AM4, que trabalhou para a campanha de políticos, inclusive a do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL).
A reportagem da Folha diz ter conversado, em diversas oportunidades, com o autor da ação e ex-funcionário da empresa, Hans River do Rio Nascimento. Em 19 de novembro, nos relatos iniciais, gravados, ele afirmou não ter conhecimento das campanhas que recorreram ao esquema.
Depois, em 25 de novembro, Nascimento teria mudado a conduta após acordo com a Yacows, segundo o jornal. Assim, pediu para que a publicação retirasse tudo o que foi dito por ele. Entretanto, as conversas gravadas e a ação movida por ele adicionam detalhes ao esquema que a Folha mostrou em outubro, de envio de mensagens antipetistas na corrida eleitoral.
Conforme o relato dele, as empresas Yacows, Deep Marketing e Kiplix, coligadas, cadastraram celulares com nomes, CPFs e datas de nascimento de pessoas desatentas com uso dos próprios dados. Ele enviou à Folha relação de 10 mil nomes de pessoas de 65 a 86 anos. E afirma que os dados usados sem permissão eram parte importante do esquema.
A legislação demanda cadastro de CPFs para liberar uso de chip. Como o WhatsApp bloqueia número que enviam mensagens, para barrar spam, as agências necessitavam de chips suficientes para substiturar pelos que fosse bloqueados.
Nascimento diz ainda que a produção e envio de mensagens se deu de modo ininterrupto durante a campanha, sem pausa para almoço, inclusive. No período que trabalhou na Kiplix, de 9 de agosto a 29 de setembro, o salário recebido foi de R$ 1.500. Ele diz que trabalhou 16 horas seguidas para dar conta dos envios encomendados por campanhas.
Numa das fotos compartilhadas por ele, um supervisor diz a todos os funcionários que eles precisarão trabalhar no fim de semana. Em outra, salas cheias de computadores ligados e vários celulares e equipamentos que usam chip de celular para emular o WhatsApp e realizar os disparos, além de caixas com chips.
Ao menos 15 candidatos ao parlamento estadual e nacional declararam ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ter utilizado serviços da Deep Marketing e Kiplix. Candidata ao Senado, Maurren Maggi (PSB) declarou R$ 60 mil pagos à mesma empresa, sem referências aos disparos. Também usou a Deep Marketing o candidato à Presidência Henrique Meirelles (MDB). Ele pagou R$ 2 milhões para “criação e inclusão de páginas da internet”.
Empresa se defende 
A empresa Yacows, apontada como protagonista em esquema de disparos em massa de propaganda política por Nascimento, disse à Folha que não há provas de atos ilícitos no processo trabalhista aberto e que não compactua com práticas ilegais. Disse ainda não ter sido contratada pela campanha de Jair Bolsonaro. A Claro, operadora da maioria dos chips, afirmou não compactuar com práticas ilegais.
A AM4 disse à reportagem que nas eleições realizou um único disparo de mensagens. Conforme a empresa, o conteúdo foi enviado para lista com 8 mil telefones cadastrados pela campanha e, portanto, dentro do que exige a lei eleitoral.
Redação O POVO Online 
Zeudir Queiroz

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